sexta-feira, 11 de abril de 2014

Arte Indígena



Pintura Corporal Indígena
Uma das características que mais marcam a cultura indígena, é a pintura corporal que pode ser vista como tão necessária e importante esteticamente como a roupa usada pelo “homem branco”. A pintura corporal para os índios tem sentidos diversos, não somente na vaidade, ou na busca pela estética perfeita, mas pelos valores que são considerados e transmitidos através desta arte. Feita de jenipapo, carvão ou urucum, tem como objetivo diferir os povos, determinar a função de cada um dentro da aldeia e até mostrar o estado civil. Algumas índias utilizam esse método, por exemplo, para “dizer” que estão interessadas em encontrar um parceiro.O processo de preparação da tinta consiste em ralar a fruta com semente e depois misturá-la com outros pigmentos, como o carvão, para diversificar as cores.Nos dias comuns a pintura pode ser bastante simples, porém nas festas, nos combates, mostra-se requintada, cobrindo também a testa, as faces e o nariz. A pintura corporal é função feminina, a mulher pinta os corpos dos filhos e do marido. Cada etnia tem sua própria marca e se alguma outra utilizar a mesma, uma luta entre as aldeias pode ocorrer.A etnia Tenharim, do Amazonas, faz desenhos de bolas em todo o corpo para se caracterizar. Homens usam desenhos maiores para se diferenciarem das mulheres e imporem uma posição de liderança. Já na aldeia Tapirapé, do Mato Grosso, homens podem usar as mesmas figuras das mulheres, mas as mulheres não podem usar as dos homens. Esta é uma arte muito especial porque não está associada a nenhum fim utilitário, mas apenas a pura busca da beleza.

Pinturas Indígenas






Araweté


Os Araweté (ou Bïde = nós, seres humanos, em oposição a awi, os outros, os inimigos), habitantes do Sul do Pará, não são mais de 300 na atualidade. Constantemente ameaçados por belicosos vizinhos ou pelo homem branco, o que os levou no passado a sucessivos deslocamentos, é compreensível que sua cultura material seja limitada. Pintam cabelos e corpo com o vermelho do urucum, e no rosto traçam em preto uma linha horizontal sobre as sobrancelhas, uma vertical de alto a baixo no nariz e duas diagonais que vão do lóbulo da orelha à comissura labial.


Asurini
 Os Asurini (= vermelhos) totalizam hoje uns 400 indivíduos, e vivem no Tocantins. Utilizam em sua pintura corporal motivos ornamentais estilizados, inspirados na natureza – cipó, feijão graúdo, pata de jaboti, rabo de macaco, cangote de onça pintada etc. - ou seres míticos, como Anhyaga Kwasiat, que foi quem lhes teria revelado os desenhos. Conforme se destine a ornar determinada parte do corpo, a pintura recebe nome específico; assim, a da perna chama-se tamaki, a da cabeça kuaipai etc.


Bakairi


São hoje cerca de 1000 e vivem em Mato Grosso. Homens e mulheres costumam pintar seus corpos com jenipapo, urucum e tabatinga em ocasiões especiais, como o casamento, a primeira menstruação ou a morte, bem como no início da colheita do milho, na cerimônia de perfuração da orelha etc. Suas máscaras, em número de 23, cada uma dedicada a um animal, são pintadas com os mesmos motivos.

Bororo


Entre os Bororo, que vivem em Mato Grosso e hoje totalizam cerca de 1.000 indivíduos, a pintura corporal representa um elo de ligação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, e só pode ser usada com autorização do tuxaua, em ocasiões especiais. Tem tríplice finalidade: ornamentar o corpo, evitar doenças e afastar os maus espíritos. Durante os rituais, os que a recebem representam o espírito dos mortos ou dos animais. Quanto aos motivos ornamentais, são estilizações de formas naturais, encontradas na fauna e na flora.


Guajajara
 Vivendo na região central do Maranhão, os Guajajara (“povo do cocar”), ou Tenetehara (“seres humanos verdadeiros”), hoje em número superior a 13.000, sofreram em contacto com os brancos um processo de aculturação quase total, a ponto de terem praticamente abandonado seus usos e costumes tradicionais, a pintura corporal inclusive, para somente a partir de 1970, graças aos esforços da FUNAI, voltarem a utilizá-la por ocasião de festas e rituais.

Kadiwéu

Os padrões ornamentais utilizados em sua pintura corporal pelos Kadiwéu de Mato Grosso do Sul (hoje reduzidos a menos de 2.000 indivíduos)consistem em espirais, curvas e contra-curvas, cruzes, losangos, volutas etc. aplicados no rosto, e somente nele, e de motivos geométricos inspirados na Natureza, no corpo e apenas nele. No passado, os nobres pintavam apenas a testa, reservada aos “plebeus” a pintura de todo o corpo. Entre todos os indígenas brasileiros, os Kadiwéu destacam-se até hoje como os melhores pintores.



Karajá 


Divididos em três subgrupos: o Karajá propriamente dito, que é o mais numeroso, o Javaé e o Xambioá, que distribuídos por 29 aldeias totalizavam na atualidade pouco menos de 3.000 indivíduos, os Karajá - ou Iny (“nós”), como se auto-denominam -, habitam uma vasta área dos Estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso, ao longo dos rios Araguaia e Javaé, nela incluída a Ilha do Bananal. Na sociedade Karajá a pintura desempenha papel de relevo, não só a ornamental, com que enfeitam sua cerâmica utilitária ou figurativa (os famosos licocós), como sobretudo a corporal. Num e noutro casos os padrões ornamentais são constituídos por linhas horizontais ou verticais que ora se aproximam ora se afastam ou se entrecruzam, entremeadas de pontos, representando partes fortemente estilizadas de corpos de animais (cobra, peixe, tartaruga etc., nunca o animal inteiro). Tais padrões, mais de uma centena, praticamente indistinguíveis a olhos não-índios, não são aplicados aleatoriamente, sendo seu uso determinado por fatores como idade, sexo ou posição social. Assim, há padrões só reservados aos chefes, outros aplicáveis apenas a artefatos, e outros ainda utilizáveis em situações especiais. Pernas e braços recebem pinturas à base de listas, faixas e pontos; mãos, pés e rosto, padrões extraídos à fauna. Quando nasce uma criança Karajá, seu corpo, após banhado, é recoberto de urucum; aos 10, 12 anos, na cerimônia iniciática do hetohoky (“casa grande”), o menino é pintado com a tinta preta azulada do jenipapo e se torna um jyre; atingindo a puberdade, o adolescente recebe na face dois círculos pintados a jenipapo e carvão, que no passado recobriam uma dolorosa escarificação feita com o dente do peixe-cachorro.



Kaxinawá


 Costumam pintar seus corpos por ocasião das grandes festas, como o “batismo” dos legumes e o das bananas. Os padrões ornamentais – mais de 50 – derivam de formas da fauna: jibóia, jacaré, coruja, lagarto etc. etc.

Maku


Os Maku, habitantes da região fronteiriça entre o Amazonas e o Peru, possuem cultura material rudimentar. Na verdade, suas canoas, cerâmica, cestaria e pintura corporal são copiadas das dos povos seus vizinhos, como os Tukano e os Arawak.


Maxakali



 Nada melhor para explicar o papel da pintura corporal entre os Maxacali de Minas Gerais do que esse pequeno texto de um deles, Rafael Maxakali, explicando o namoro e o casamento entre seu povo: “Os Maxakali dançam, brincam, nadam e se pintam com urucum e jenipapo para ficarem bonitos e namorar. Mas como eles namoram? Os espíritos saem para cantar e dançar e cantam bonito. Então dançam com as mulheres. Mas aqueles (aqueles dois) no cantinho estão brincando e namorando também. Também namoram quando estão nadando, pintam o rosto, a perna e o braço com urucum, pintam-se para ficar bonitos”.


Panará



Os chamados “índios gigantes”, cerca de 200 indivíduos cujo habitat atual localiza-se entre Mato Grosso e o Pará, descendem dos antigos Cayapó do Sul, dizimados pelos bandeirantes no Séc. XVIII e quase definitivamente extintos em começos do Séc. XX. Não mais possuindo sua própria pintura corporal, os Panará adotaram em época recente a dos povos seus vizinhos, num curioso processo de apropriação cultural.


Timbira
Esse nome se aplica a sete sociedades indígenas localizadas no Maranhão e no Tocantins: Apanyekrá, Apinayé, Ramkokamekra-Canela, Gavião do Oeste, Krahô, Krinkati e Pukobyê. Além de suas festividades e rituais, durante as quais pintam os corpos com os padrões e nas cores que caracterizam os diferentes clãs, todos esses povos cultivam a corrida de toras, que não faz parte de nenhum ritual de iniciação ou pré-nupcial, como se pensava, mas é, isso sim, uma espécie de esporte nacional Timbira. Para a realização da corrida de toras os membros da comunidade dividem-se em grupos, segundo sua pintura, ou em sociedades de festa; assim os Katám (vermelhos) enfrentam os Vanmégn (pretos), entre os Apinayé de Tocantins, enquanto uma intrincada tabela opõe Patos, Gaviões, Jaguares, Cutias, Máscaras, Peixes e Palhaços, entre os Ramkokamekra-Canela do Maranhão - e para só ficar nesses exemplos. As toras, obtidas de troncos de buriti e pintadas pelas mulheres de cada grupo, têm peso e dimensões que variam segundo a idade dos contendores (15 a 55 anos); as maiores, reservadas aos campeões da tribo, medem cerca de um metro de altura por 40 a 50 cm de diâmetro, e chegam a pesar 100 quilos! O desafio é levá-las às costas desde o local onde foram cortadas até ao centro da aldeia, num percurso médio de três quilômetros. Entre os mais importantes rituais Timbira incluem-se o Mekapri, durante o qual o espírito de uma pessoa enferma é instado a voltar ao seu corpo, e as cerimônias de casamento, morte e enterro.


Xerente.

Os Xerente (Akwe) habitam o Tocantins e são hoje cerca de 1.800. Os motivos predominantes em sua pintura corporal são o traço, que identifica os que pertencem ao clã Wahirê, da Lua, e o círculo, para os que integram o clã Doí, do Sol. Adultos somente se pintam em ocasiões especiais, ao contrário das crianças, que devem andar sempre pintadas. As cores predominantes são o preto, obtido da mistura de carvão com pau-de-leite, o vermelho de urucum e o branco, reforçado com penugem de periquitos. Antes da aplicação das tintas, o corpo é untado com óleo de babaçu.



Xokleng

Os Xokleng de Santa Catarina conservaram até cerca de 1950 seus usos e costumes, crenças e cultura material, o que incluía a pintura corporal, cada família ostentando em ocasiões especiais suas “marcas” próprias, inspiradas em animais. Quando um Xokleng casado morria,seu viúvo ou viúva permanecia algum tempo em reclusão, para se purificar, e ao ser reintegrado à comunidade era recebido em meio a cantos e danças, todos usando no corpo suas marcas de identificação.Em nossos dias, os Xokleng adotaram a religião episcopal, passaram a usar roupas como os brancos e trocaram rituais e celebrações pelas reuniões quase diárias da Assembléia de Deus.Hoje, somente no Dia do Índio, 19 de abril, os 750 remanescentes desse povo se despojam de suas roupas e pintam seus corpos com as velhas marcas, não com finalidade ritualística, mas por motivação estética, por achá-las uh (bonitas). A FUNAI vem tentando em época recente reiniciá-los em seus costumes tradicionais, mas enfrenta a resistência dos religiosos.

Yawanawa

 Apenas os membros mais idosos dos Yawanawa do Acre (com seus parentes, os Katukina) ainda conservam na memória os padrões ornamentais de sua antiga pintura corporal, hoje executada pelas mulheres somente por ocasião das grandes festas ou saiti (“gritaria”), como a do mariri e a da caiçuma. Nessas pinturas, cada vez menos freqüentes, predominam o preto do jenipapo e o vermelho do urucum.




Wajãpi
 
Esse povo, integrado por cerca de 1.000 indivíduos, mais da metade vivendo no Amapá, e os restantes na Guiana Francesa, distingue-se por ter sido responsável pela criação do padrão kusiwa (“caminho do risco”), utilizado tanto em sua pintura corporal quando na de seus objetos.Trata-se de combinar entre si do modo mais engenhoso possível desenhos estilizados de cobra, borboleta, espinha de peixe, casco de jaboti etc., assim formando intrincadíssimas tramas ad infinitum. Para os Wajãpi os padrões empregados no kusiwa foram-lhes revelados pelos mortos, e o indívíduo que tem o corpo pintado passa a se identificar com o espírito de um morto, ou de um animal. Em 2003 a UNESCO declarou o padrão kusiwa Patrimônio Imaterial da Humanidade.


Wayana

Como tantos povos indígenas, os Wayana, que habitam o norte do Pará, têm uma versão mítica para a origem dos padrões e das cores com que se pintam. Segundo eles, foi o homem-lagarto kurupeakê e a cobra-grande tuluperê que lhes forneceram os desenhos e cores (preto e vermelho respectivamente) de sua pintura corporal. Aliás, prova da superioridade do homem sobre o bicho é que cada bicho possue uma única “pele”, enquanto ao se pintar o homem pode utilizar várias “peles”. Certos motivos Wayana possuem simbolismo particular: assim, o pontilhado imita as malhas da onça e representa o domínio sobre a Natureza; o triângulo é a borboleta e remete ao mundo espiritual; e o listrado é uma alusão à cobra-grande e ao sobrenatural.



Um comentário:

Unknown disse...

Valeu, professora! Muito bem explicado o seu trabalho.
Abraços.